Existe na minha memória uma plateia na qual se assentam para me assistir personagens do meu passado. O papel de atriz é meu e o enredo é a minha vida. Os que me fizeram mal me acusam. Os que me fizeram bem torcem por mim e me aconselham. (Há aqueles que nem estão na arquibancada: diferença alguma fizeram em minha vida ou formação.)
Um desses personagens é a “tia” Almerinda. Além de me ensinar a ler, ela me ensinou a gostar de escrever, já na primeira série! Um dia ela me pôs de castigo no canto da sala. Fiz uma grande birra e acabei apanhando da minha mãe, que morava ao lado da escolinha. O dia terminou tragicamente: com o susto de ver a minha mãe tão brava, fiz xixi na calça.
Apesar desse tratamento nada convencional, tia Almerinda ocupa lugar privilegiado da minha arquibancada. Até hoje quando nos encontramos ela diz: “Como vão o Rique e o Roque?” Esses dois ratinhos foram o tema da minha primeiríssima redação.
Há quase 40 anos ela é professora numa aldeia do povo Karajá na Ilha do Bananal. Ela contribuiu para a formação de toda a atual geração daquela aldeia e tenho certeza de que, como eu, eles reservam um lugar especial para ela em seus corações.
Quanto aos que me fizeram mal, aprendi a silenciar suas acusações e insinuações que me fazem pensar mais em mim mesma do que no meu próximo ou em Deus, meu criador.
O que distingue um grupo do outro? Os do bem foram pessoas que conseguiram me enxergar muito além dos rótulos e papéis conferidos a mim pela sociedade, viram em mim coisas grandes e ocultas que eu ainda não conhecia. Ensinaram-me a viver, pela vontade que tive de imitá-los, mesmo se às vezes não quisesse ouvir seus sermões.
Dedicamos esta edição de Mãos Dadas às “tias almerindas” de hoje. Que você que trabalha com crianças em algum projeto social, igreja ou escola, encontre aqui inspiração para ver e tocar toda criança que Deus colocar na sua vida, de uma forma tão especial que nunca mais você saia da lembrança dela!
De mãos dadas,
Há 10 anos estamos de Mãos Dadas, unidos no propósito de fortalecer o trabalho cristão de resgate, cuidado e defesa da criança e adolescentes em situação de risco social. Esta edição é a 26ª, apesar de seu número ser 25. Sabe por quê? Em novembro de 2000, quando publicamos a edição zero, não sabíamos se teríamos condições de publicar outras. Era uma edição-piloto, de teste. Podemos dizer com muita gratidão: até aqui nos ajudou o Senhor.
Grande é o nosso entusiasmo, gigantescos são os desafios. Nossa causa? Vida plena para todas as crianças!
Autor(a): Elsie B. C. Gilbert ,editora da Rede Mãos Dadas.