Por Elsie Gilbert
Como pais e mães, nosso primeiro papel poderia ser comparado ao do professor de escolinha de futebol. Jogamos a bola e incentivamos a criança a chutá-la. Mesmo os chutes dados no ar são elogiados.
Depois passamos a exigir mais dela; apontamos as falhas e mostramos o que deve melhorar – assumimos o papel de técnico. Técnico e jogador-mirim têm os seus desentendimentos, mas tanto um quanto o outro respeita a divisão de papéis.
De técnico a torcedor: o destino de todos os pais
Então chegam os dias da grande rebelião. E de técnico somos pouco a pouco rebaixados a torcedores e remetidos sem dó às arquibancadas. Ali, mesmo que se sinta ferido ou ultrajado pelo rebaixamento, o pai passa a torcer abertamente pelo filho. Pai que é pai só deixa o estádio quando o filho para de jogar. Essa mudança de papéis, de técnico a torcedor, é vivida de forma mais ou menos conflituosa pelas famílias. E, em sua maioria, as coisas tendem a se encaixar.
Mas o importante é perceber o que o adolescente tem de mais precioso: a garantia de que o técnico jamais pedirá as contas por vontade própria, mesmo em desacordo ou em grande conflito com o jogador. O rebaixamento parte do adolescente quando ele se sente seguro suficiente para jogar sem o apoio técnico do pai. Mas para tanto ele deixa de ser adolescente e passa a ser adulto! É claro que esse processo não tem data fixa nem acontece da noite para o dia.
Adolescência sem técnico: um grande problema
Agora pensemos no adolescente com um histórico de violência doméstica, seguido de trajetória de rua. Um dia é convidado a aceitar a ajuda de um abrigo. Ingressa na casa, aprende as regras, cresce e se desenvolve em várias áreas. Mas continua a grande incógnita: quem é o seu técnico? Será que uma instituição pode desempenhar esse papel? Ela permanecerá nas arquibancadas até o final do jogo? Muitas vezes, essa pergunta ainda está sem resposta quando chega o dia em que a instituição (único técnico visível até então) declara: “Agora, meu filho, você precisa jogar sozinho! Estamos saindo do campo!”
Veja a versão original deste artigo que aborda também a situação dos adolescentes que passaram a maior parte de suas vidas em instituições de acolhimento.
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Artigto retirado da Revista Mãos Dadas, Revista de apoio aos que trabalham pela dignidade de nossas crianças e adolescentes. Ano 2004/Nº 10. Conheça a revista completa! Clique aqui!