Dia 2: Jesus precisava de ajuda quando estava sozinho no deserto?
Os dois últimos anos têm sido um tempo de solidão para muitos de nós. Fomos encorajados a manter distância de nossas famílias e amigos. Estivemos presos em casa por causa da pandemia. Quando nos aventuramos fora delas, há muitos protocolos de distanciamento social, máscaras, álcool gel e nada de abraços.
Houveram tentações para escaparmos dessas proteções. Não é certo abraçar quando nos encontramos. Reuniões on-line, embora sejam convenientes e seguras, não substituem a presença física e o calor humano.
Tristeza, depressão, medo e luto têm aumentado e, em alguns casos, se tornaram incontroláveis.
Jesus passou por um tempo de completa solidão, no qual ele quase morreu por estar completamente sozinho.
Leia Mateus 4.1-11
Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. O tentador aproximou-se dele e disse: “Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães”. Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’.
Então o diabo o levou à cidade santa, colocou-o na parte mais alta do templo e lhe disse: “Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo. Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’”.
Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e o seu esplendor. E lhe disse: “Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar”. Jesus lhe disse: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’”. Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram.
Cada uma dessas tentações tem a ver com o modo como Jesus se relacionava com aqueles à sua volta. O título de “filho de Deus” em tempos antigos foi dado a líderes de forma a reivindicar ascendência divina.
Ser descendente de uma divindade legitimava seu direito ao poder. Jesus alegou ascendência divina, e Ele estava no caminho para se tornar um líder. Que tipo de líder Jesus seria?
Satanás disse: “se você é o Filho de Deus, transforme estas pedras em pão”. Por que isso seria relevante?
Transformar pedras em pão tinha enormes implicações políticas, porque isso mostrava o poder do governante em prover pão para as multidões.
Moisés teve de arranjar pão para os Israelitas. O Império Romano conquistou o Egito para ter acesso ao seu trigo.
Alimento era crucial para manter os militares bem alimentados e os cidadãos romanos longe de tumultos. O pão, no tempo de Jesus, era usado pelos governantes para controlar as massas.
A tentação de Satanás sugeriu a Jesus uma forma rápida de se tornar poderoso, espetacular. De certa forma, isso era um atalho para escalar até aquele lugar de autoridade incontestável.
Na segunda tentação, Satanás tenta Jesus a mostrar sua autoridade sobre os anjos. E na terceira, Satanás lança uma aposta total: “todas as nações serão suas se você me adorar”.
Se Jesus tivesse aceitado qualquer uma dessas tentações, ele estaria escolhendo manter o status quo. A escolha seria de reinar através da manifestação de poder e de manipulação das massas. Em vez disso, Jesus escolheu adorar a Deus.
Quanto mais poder uma pessoa tem e usa para controlar e manipular os outros, mais distante e separada ela fica das pessoas. Os poderosos têm muitas maneiras de se distanciar das pessoas: muros em condomínios, escolas e clubes particulares exclusivos, carros blindados, seguranças, a lista é grande.
Durante os 40 dias de isolamento no deserto Jesus rejeitou as formas de Satanás para se relacionar com as outras pessoas. O isolamento social que ele experimentou não seria resolvido através do controle e manipulação das pessoas. Eles só pareceriam mudar a situação, Ele continuaria distante das outras pessoas pelo resto de sua vida. Em vez de almejar se tornar um poderoso líder, ele permaneceu fiel à sua condição vulnerável de ser humano.
Ele estava disposto a abrir mão de sua segurança pessoal e de seu poder para manter a harmonia e comunhão com Deus Pai e o Espírito Santo naquele momento difícil da sua jornada.
O Espírito Santo o conduziu ao deserto, Deus Pai o auxiliou a sair de lá enviando anjos para cuidar dele. Não há vergonha, desgraça ou fraqueza em estar vulnerável e aceitar ajuda quando se está sozinho.
Depois de ser curado, Jesus retornou à sua comunidade, chamou seus discípulos e se cercou de pessoas. Ele andou em suas “Havaianas” pelas estradas empoeiradas, encontrando, conversando e curando pessoas por compaixão.
Ele comeu e dormiu em casas comuns, se reuniu com amigos próximos e comeu “arroz com feijão”. As pessoas amavam a Jesus, e Ele as amava. Jesus era acessível, falava com as pessoas e as crianças sentavam em seu colo. Jesus escolheu o poder da compaixão ao invés do poder político, da religião ou das apresentações espetaculares.
O distanciamento social tem nos mostrado que somos totalmente dependentes uns dos outros durante a vida. Em tempos de solidão, precisamos nos lembrar que Jesus precisou ser cuidado pelos anjos depois de passar um tempo no deserto. Como seres humanos nós precisamos de ajuda mútua, e não é fraqueza, mas sim a força do Reino dos Céus revelado em Jesus Cristo.