“Se os justificados não têm uma visão de justiça é porque não entenderam ainda do que a própria justificação se trata”
(N. T. Wright)
Proponho que você faça um exercício de “imaginação profética” e pense na seguinte questão: que mudanças poderiam ocorrer no seu bairro ou na sua cidade se todos os que professam a crença na justificação por graça mediante a fé em Jesus Cristo, passassem a realizar ações concretas em prol do estabelecimento de uma sociedade justa?
O termo justiça, na Bíblia, denota conformidade com um padrão. Significa amoldar-se à vontade de Deus com base nas Escrituras. O justo é descrito como alguém que faz a vontade de Deus em relação ao outro, em especial aos que se encontram em situação de desvantagem social e econômica.
O profeta Miqueias convoca o povo de Deus para praticar a justiça (Mq 6.8). Ele deixa claro que o Senhor rejeita as tentativas de Israel de substituir a prática da justiça por atos religiosos (holocaustos, milhares de carneiros e rios de azeite). Na mesma linha, Amós, que profetizou em uma época de muita religiosidade e pouca justiça social, abriu a sua boca corajosamente, sem nenhuma aliança política e disse claramente qual é o tipo de culto desejado por Deus: “Em vez disso, quero que haja tanta justiça como as águas de uma enchente e que o direito seja como um rio que nunca seca.” (Am 5.24).
Vejam o que Deus diz, por meio do profeta Jeremias, ao ganancioso rei Jeoaquim, contrastando o seu reinado com o do seu pai, Josias: “Teu pai (…) agiu com justiça e retidão, por isso as coisas iam bem para ele. Ele defendeu a causa do pobre e do necessitado, e, assim, tudo corria bem. Não é isso que significa conhece-me? Declara o Senhor” (Jr 22.15, 16). Percebam que existe uma relação direta entre conhecer a Deus e praticar a justiça.
Aprendemos com os profetas que a verdadeira adoração a Deus resulta obrigatoriamente em compromisso com a defesa da vida e a prática da justiça. Ou seja, onde a vida está ameaçada Deus quer agir por meio do Seu povo, dizendo através de palavras e ações: “Basta! Assim como está, não pode continuar”. Nós não podemos dizer que amamos o Senhor que “é justo e ama a justiça” (Sl 11.7) e ao mesmo tempo fechar os nossos olhos para as injustiças que ofendem o caráter desse Deus.
Toda a Bíblia nos revela um Deus comprometido com a história, que ama a justiça, é pai dos órfãos, protege a viúva, acolhe o estrangeiro, defende o pobre, é Senhor Soberano de toda a criação e está em Missão, fazendo “novas todas as coisas” (Ap 21.5). Jesus de Nazaré, “a expressão exata de Deus” (Hb 1.3), anunciava a chegada do Reino que restaura a relação do ser humano com o Criador, consigo mesmo, com o seu próximo e com o meio ambiente. Essa mensagem tão poderosa tem sido transmitida, por muitos, de uma forma que faz parecer que Jesus queria apenas mudar a maneira como as pessoas se sentem.
Aguardamos com grande expectativa, como disse o apóstolo Pedro, “os novos céus e a nova terra que ele (o Senhor) prometeu, um mundo pleno de justiça” (2 Pe 3.13). Mas não aguardamos como expectadores, aguardamos como cooperadores de Deus em sua Missão de fazer com que a sua vontade seja feita “assim na terra como no céu” (Mt .6.10). Que essa visão e esperança futura – de novos céus e nova terra, onde habita a justiça – nos forneça direção e inspiração para o nosso engajamento no presente, até que Cristo venha outra vez!
Por Bebeto Araújo