A história que trazemos hoje aconteceu em 2008 com John Collier, médico aposentado e também um dos fundadores da Revista Mãos Dadas.
Aconteceu num país não muito distante do Brasil, neste tempo em que os grandes e poderosos estão sempre tentando ganhar vantagem sobre os pobres e mais fracos, que uma mãe resolveu colocar sua filha para trabalhar para que ajudasse a família. A garota, chamada Sofia, cujo nome quer dizer “sabedoria”, tinha de vender bombons na praça de uma cidade chamada Arequipa, no Peru.
Sofia passava muitas noites trabalhando na praça, onde observava muitas pessoas importantes. Era possível ver sua importância por causa das roupas que vestiam, de como andavam apressadas e dos carros que as conduziam pra lá e pra cá. Logo Sofia percebeu que era quase invisível. Poderia ficar parada num banco da praça o dia todo e ninguém se incomodaria em perguntar o que ela estava fazendo ali.
Para que conseguisse realizar uma venda, era necessário ir atrás e parar as pessoas. E mesmo assim, precisava saber com quem fazer isso, já que nem todos eram gentis com ela. Sofia sabia que alguns eram na verdade pessoas muito más que não exitariam em se aproveitar dela, se pudessem. Destes, ela procurava manter distância. Mas não era o que conseguia fazer com seu novo padrasto. Ela não conseguia se distanciar dele e sabia que não havia bondade em seu olhar.
Num certo sábado à noite, Sofia se aproximou de dois homens importantes e observou que o menino engraxate já estava quase terminando de polir seus sapatos. Se tratavam de turistas. E, mesmo vendo que falavam um idioma esquisito, ela resolveu oferecer seus bombons. Os homens pararam, olharam para ela e por um instante ela os encarou. Um deles falou com ela em espanhol. Qual é o seu nome? Onde você mora? Por que você está trabalhando na praça? Você está sozinha? Onde está sua mãe? Você estuda? Quantos irmãos você tem? Ela ia respondendo e um repetia a conversa para o outro em inglês.
Ela sabia que eles estavam preocupados. Não é bom que uma menina esteja só numa praça e muito menos que fique falando com estranhos. Enquanto Sofia esperava um turista traduzir para o outro ela pensava: “Por que estou conversando com estes homens? Acho que é porque os olhos deles são bons.” Sentiu a vontade de contar para eles que estar ali não era seu plano e nem vontade, que na verdade existia uma alternativa bem melhor. O único problema é que se ficasse gastando seu tempo conversando, venderia menos bombons e isso iria fazer com que seu padrasto ficasse muito bravo.
Contudo, Sofia não se conteve e, descaradamente, perguntou: “Por que vocês não apadrinham uma criança pobre?” O turista que falava espanhol traduziu para o outro e ambos ficaram com cara de espanto. Então ela resolveu se explicar melhor. Antes Sofia morava no lar Nueva Esperanza porque sua mãe não tinha condições de criá-la. Ela contou como gostava daquele lugar pois sentia a presença de Deus nas pessoas e podia ter segurança. Ela não morava mais lá porque sua mãe não deixava, mas outras crianças sim e o lar precisava de ajuda. Segundo ela, lá era realmente muito bom. As crianças como ela estudavam, tinham lugar para dormir, roupas, comida, e conselheiros.
Os dois turistas ficaram meio que sem palavras. Compraram seus bombons, pagaram o menino engraxate e foram embora enquanto Sofia os seguia com o olhar.
Cerca de duas semanas depois, alguns funcionários do lar Nueva Esperanza foram à casa de Sofia. Havia uma ordem do juiz que obrigava sua mãe deixá-la voltar para o lugar. Eles disseram que se ela continuasse levando seus filhos para trabalhar na praça, ia perder todos eles. Sofia ficou muito feliz com sua volta para o lar. Apesar de sentir falta da mãe e irmãos, lá ela não teria que lidar com o medo do padrasto. Além disso, ela poderia visitá-los de vez em quando. Sofia só não entendeu como isso tudo havia acontecido.
No lar Nueva Esperanza ela ficou sabendo que os dois turistas tinham visitado a instituição. Eles contaram sobre o que estava acontecendo com Sofia, que ela estava sendo obrigada a trabalhar à noite numa praça perigosa. “Eles adiaram a viagem e ficaram procurando você, Sofia”, disseram os funcionários. “Como não conseguiram te encontrar, procuraram o lar Nueva Esperanza. Eles vieram aqui pedir que nós fôssemos buscar você de volta para você poder estudar e não ter que trabalhar na rua.”
Não precisa nem dizer que foi grande a alegria dos funcionários do lar Nueva Esperanza ao receberem Sofia de volta. Ela ainda já estava chegando com dois padrinhos, um que falava espanhol e o outro que só falava inglês. Os dois são médicos, um mora em Portugal e o outro nos Estados Unidos.
Sofia foi generosa e sábia ao falar o que sabia, mesmo correndo o risco de perder seu tempo e sofrer maus tratos do padrasto. Mas ela conhecia pessoas bondosas, acreditava na bondade daqueles que temem a Deus e sabia que de alguma forma o seu Criador poderia usar suas palavras para fazer o bem. Os dois turistas foram muito abençoados porque ouviram a menina e acreditaram nela.
Exigir que uma criança contribua com a renda familiar é explorar a força produtiva de um ser em desenvolvimento. Isso atrapalha o seu desenvolvimento prejudicando o seu futuro. Trabalho infantil é como queimar uma vela pelos dois lados do pavio! Infelizmente, em condições semelhantes à de Sofia, essa é a realidade de 168 milhões de crianças ao redor do mundo, de acordo com estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância.
Entendemos que este é um problema social muito complexo. A cultura da exploração, somada às desigualdades sociais, à pobreza e à baixa escolaridade são grandes fatores determinantes. Mas, diante de Deus, somos chamados a inquietude diante dessas situações: “Erga a voz em favor dos que não podem defender‑se; seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados” (Provérbios 31.8-9).
Assim como John e seu amigo, você pode fazer a sua parte!
No Brasil, temos o canal de denúncia Disque 100.
Além disso, a Rede Mãos Dadas convida você a participar do nosso Mutirão Mundial de Oração 2024! Queremos interceder por todas as crianças e adolescentes que sofrem em secreto, em lugares nos quais o socorro parece não chegar. ”Brilhe, Jesus, nos Lugares Escuros!” é o tema deste ano. Que a luz de Jesus chegue até elas!
Veja a história completa, escrita por John Collier: