Todo gesto, tradição, arte, marca e, porque não dizer tudo que um dia foi criado por um ser inteligente, possui um conceito. Assimilar a ideia por trás das coisas é algo que me diverte em certos momentos e quando descubro o sentido das coisas que me disponho a assimilar, elas passam a ter um valor precioso para mim.
Há mais ou menos um mês fui apresentado a um conceito belíssimo. Em uma aula sobre Cultura, no curso Perspectivas*, o professor, ao reforçar a importância da compreensão do que está por trás dos comportamentos culturais, apresentou uma preciosa tradição chinesa na celebração do aniversário de suas crianças. Diferente da nossa cultura ocidental, que passa a contar os dias de vida de um ser humano após a data de seu nascimento, na China a contagem é feita a partir da concepção! Na ocasião o professor mencionou que, após o nascimento os chineses contam o período de três meses e definem esta a data do aniversário do bebê.
Procurando mais informações sobre isso na internet, vi que a tradição de fato conta com este conceito da vida começar a partir da concepção, porém a data é marcada trinta dias após o parto. É nesse dia que a maioria dos familiares são apresentados à criança, que o nome desta é revelado e a mãe, que durante este período fica reclusa para se recuperar do trabalho de parto, criar laços com o bebê e evitar riscos à sua saúde e à do neném, volta à sua rotina.
Os coreanos têm costume semelhante, mas contam 100 dias após o parto como o final do primeiro ano de vida de uma criança. A contagem de três meses faz bem sentido para nós ocidentais, porque fecha um ciclo de aproximadamente 12 meses (9 de gestação mais 3 de vida do bebê fora do útero). Mas, independentemente se um ou três meses, a beleza está no fato de reconhecer a nossa humanidade a partir da fecundação. Que conceito belo e forte! Belo porque, de fato, já há vida no processo iniciado com a união dos gametas. Há movimento, há multiplicação, há pulsação, há força, há sentido! E é forte uma vez que ele grita contra o barulho feio e irritante a ressoar nos nossos dias que tenta definir como ser vivente aquele ou aquela que existe somente após o parto – antes disso é feto e pode-se fazer o que quiser com ele porque não está vivo. O conceito de que já há vida antes do parto, de que já se é mãe e pai mesmo o bebê estando em formação, de que a criança já é um indivíduo com direito à vida e que precisa de amor e cuidado mesmo ainda informe é um dos mais belos. E não foi o próprio Senhor da vida que o definiu?! Davi exalta isso com magnitude: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; (…) Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Salmos 139:13-14,16 recortes meus). Maria, ao receber a notícia de que seria mãe do Salvador, assume sua missão consciente de que no seu ventre já havia vida e a própria Isabel, cheia do Espírito Santo, bem como o pequeno João, ainda em seu ventre, reconhecem: o ser já nasceu, já é gente, já carrega vida – e, no caso de Jesus no ventre de Maria, que vida (Lucas 1.26-45)!
Hoje Marília (minha esposa) e eu, contando três meses após do parto, decidimos celebrar o primeiro ano de vida do Daniel por causa desse conceito. Claro, o dia do parto continuará sendo um marco na vida dele e na nossa, mas não queremos perder essa preciosa ideia. Queremos anunciá-la e defendê-la dizendo “é ser sim, formado e conhecido por Deus antes mesmo de ser concebido,” e por isto, sua vida precisa ser celebrada.
Por Lucas Rolim, no dia em que seu filho, Daniel, completa 100 dias após o parto, 1 ano de existência!
*Perspectivas é um curso sobre missões.