Alberto Rezende tem 77 anos e mora em Viçosa, Minas Gerais, com sua esposa Rute. Avô de 6 netos, ele compartilha sua experiência com seu primeiro neto, que atualmente tem 15 anos de idade e é autista.
Minha experiência com meu neto, autista, começou bem cedo. Ele foi o primeiro, então tempo era algo que tínhamos de sobra para dedicar a ele. Com o autista isso é bastante necessário. Além de constantemente termos de estar dispostos a viajar para um mundo diferente.
Suas emoções estão muito presentes o tempo todo, às vezes de forma enigmática ou, ainda, talvez de forma encoberta.
No caso de meu neto, suas razões para chorar e para rir quase sempre fogem do entendimento dos principiantes e desavisados. Quanto mais dos desinteressados, e, por que não, dos ignorantes. É preciso intimidade, confiança, amor, paciência, e muita imaginação e criatividade para conviver. É preciso, também, autoridade, mas sem imposição, pois na maioria das vezes ela não leva a nada.
Comumente, o mecanismo de barganha se faz bastante útil. Eu deixo você fazer o que você quer, com a condição de você fazer o que eu quero, ou o que é necessário. Descer do carro, entrar no restaurante, fazer exercícios ou estudar. Atividades simples e rotineiras, que para conseguirmos sua execução, também devemos avisar com antecedência.
Cumprir com as promessas é fundamental. Se prometeu chocolate, tem que dar chocolate, se prometeu levar ao cinema, terão que ir ao cinema. Dar certa quantidade de tempo para ele se programar também ajuda. Por exemplo, 10 minutos de espera até que vá escovar os dentes. Meia hora para tomar o banho.
Quase sempre ele diz ‘não’. Dificilmente recebemos um ‘sim’. Ou seja, na maior parte das vezes ele prefere ficar no seu próprio mundo.
Alguns comportamentos vão mudando com o tempo, sem que seja necessário algum esforço específico. Outros ficam, ao que parece, para sempre. Houve um período em que ele gostava muito de água. Ficava horas e horas no chuveiro ou na piscina. Depois de um tempo, ele foi deixando isso de lado. E outros hábitos foram tomando o lugar, como jogar frescobol, correr, fazer caminhada, etc.
Já com relação à alimentação, dificilmente ele aceita coisas diferentes. E assim funciona com muitas outras coisas. Mas o importante é não desistir. O aprendizado acontece o tempo todo. Em casa, na escola, nos museus, nas ruas, nas conversas…
O meu neto é carinhoso, inteligente, e também surpreendente. Tem muito o que aprender todos os dias, mas tem também o que nos ensinar. Hoje, já é um rapaz de 15 anos. Cresceu e desenvolveu muitas habilidades. Sabemos que Deus não colocou ele no mundo por acaso. Existe um propósito com sua vida preciosa.
Nós precisamos manter a esperança em Deus, no progresso do conhecimento da medicina. É essencial continuar buscando informações para desmistificar, excluir preconceitos, discriminações e indiferenças que ainda persistem.
Graças a Deus, e ao esforço de pais, avós, professores, associações e vários outros, o futuro próximo, que acreditamos, será melhor para os autistas, como tem sido para meu neto, e também para outros tantos que possuem os mesmos desafios.