Protagonismo infanto-juvenil: avaliando nossas estruturas

“Um passo a frente e você já não está no mesmo lugar.” Chico Science

Crianças, adolescentes e jovens discutindo, participando, brincando, decidindo, discordando, propondo. Este é o desejo de quem quer construir uma sociedade mais democrática e fraterna. Todavia essas atitudes não caem do céu. São frutos de processos educativos que favorecem o diálogo no dia-a-dia das famílias, da escola e nos espaços de convivência comunitária (igrejas, movimentos culturais, associações, etc).

1º passo: avaliar nossos conceitos
Primeiramente, precisamos refletir sobre nossos conceitos: como concebemos a infância, adolescência e juventude? Acreditamos mesmo que estas pessoas, nesta fase de vida, podem contribuir? Somos capazes de aprender no contato com elas? Há espaço efetivo para troca de experiências? A linguagem que usamos é adequada para esta faixa etária? Quem decidiu sobre as atividades que estão sendo desenvolvidas? Conhecemos suficientemente os universos existencial e cultural delas? Somos parceiros de seus desejos e descobertas? Qual é a visão de futuro colocada a cada uma delas?
Sem o aprofundamento destas questões e um diálogo aberto, dificilmente conseguiremos contribuir para o fortalecimento do protagonismo de crianças, adolescentes e jovens e, consequentemente, dos processos educativos a eles/as destinados.

Devemos superar a visão do fazer para eles/as, mas construir diariamente a postura do fazer com eles/as.

2º passo: assumir responsabilidades em conjunto
O desafio é assumir conjuntamente responsabilidades: educandos e educadores, lideranças e membros dos grupos, pais e filhos, pastore(a)s e membros das igrejas, sendo parceiros de um mesmo processo, cada qual com o seu papel, com seu jeito, seus conhecimentos e contribuições.

Podemos nos perguntar se as estruturas e canais existentes em nossas organizações e grupos favorecem a participação. Como avaliamos o envolvimento das crianças, adolescentes e jovens? Eles só estão presentes “fazendo número”? Também opinam e decidem?

Protagonismo infanto-juvenil é um exercício cotidiano. É fruto de diversas condições construídas a partir de um processo educativo e político no desenvolvimento das atividades. Enquanto não conseguirmos favorecer e conquistar espaços de expressão autônoma e criativa, dificilmente haverá protagonismo de crianças, adolescentes e jovens.

3º passo: entender os níveis de participação 
Precisamos perguntar que tipo de participação é desejada e possível em cada faixa etária. Claro que as crianças têm condições de participar, dar opinião, dialogarem acerca de um assunto, interagirem em uma determinada brincadeira ou atividade, mas não em decidir a data da eleição da coordenação do projeto.

Os adolescentes, já em outra etapa, podem muito bem decidir sobre a organização do espaço, definição da temática a ser trabalhada, mas decidir em qual banco o projeto vai abrir a conta ou se contratará os funcionários como prestadores de serviço ou com carteira assinada, não cabe a eles.

Já a juventude estará em condições de participar sobre os espaços de organização social que deseja atuar no município, o que fazer e como se organizar no projeto, mas não pode negar e desprezar as outras organizações que contribuem com a comunidade.
O importante nesses processos é estarmos atentos quanto aos jogos de interesse e de poder existentes em todas as organizações e grupos. Como cada segmento é valorizado e respeitado em sua peculiaridade? Quais são os frutos desejados? E como, efetivamente, cada pessoa pode contribuir para que este processo coletivo responda às necessidades de seu tempo?

Construir processos em que crianças, adolescentes e jovens são protagonistas requer de cada um de nós um compromisso com os ensinamentos do Senhor que veio para que todos/as tenham vida, e a tenham em abundância (Jo 10.10).

 

Autor: Alexandre Botelho, o Merrem, é coordenador do Programa de Promoção da Criança e do Adolescente (PPCA), da Diaconia. O PPCA apóia projetos comunitários em Recife (PE) e Fortaleza (CE), sempre em parceria com organizações locais.