Segundo estudo: Negligência tem Preço

Davi foi o segundo rei a ser ungido quando Israel adotou a monarquia como forma de governo. A dinastia de Davi gerou quinze reis. A maioria deles foi considerada má. Deus enviou vários profetas para alertar e encorajar os líderes e o povo a mudarem. Ao longo desses quatro séculos, o culto aos falsos deuses cresceu e espalhou-se. Na Bíblia, a injustiça e a opressão andam de mãos dadas com a adoração a ídolos. Isso porque o povo buscava o favor dos deuses para resolver seus problemas e apaziguar suas angústias. Não queriam amar a Deus e muito menos o próximo.

Aproximadamente 400 anos depois do rei Davi, Ezequiel aparece, profetizando. Nos primeiros 32 capítulos do livro de Ezequiel, o profeta reprova o povo de Israel. O capítulo 33 descreve a queda de Jerusalém, que aconteceu em 586 antes de Cristo. Apesar do otimismo e do entusiasmo do povo em relação aos deuses, estes não evitaram a tragédia e o desterro para a Babilônia. No capítulo 34, Ezequiel profetiza contra os pastores do povo, ou seja, seus governantes.

A expressão “pastores de Israel que apascentam a si mesmos” não se refere aos líderes religiosos como os sacerdotes ou os fariseus do tempo de Jesus. Ezequiel usa a tradição de chamar os governantes de pastores e o povo governado de ovelhas. Isso nos permite fazer a comparação entre o Salmo 23 e esta passagem de Ezequiel 34.

Use esta tabela para ajudar a equipe a fazer a comparação dos dois textos. Uma pessoa lerá as linhas relativas a Ezequiel, a outra lerá as falas relativas ao salmo de Davi.

No tempo de Ezequiel, os governantes, ou seja, os pastores do povo, tiram proveito e vivem das ovelhas, mas não as alimentam. Eles as exploram e as oprimem. 

Ezequiel 34.1-2

“A palavra do Senhor veio a mim, dizendo:

— Filho do homem, profetize contra os pastores de Israel; profetize e diga-lhes: Assim diz o Senhor Deus: ‘Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos! Será que os pastores não deveriam apascentar as ovelhas? Vocês comem a gordura, vestem-se da lã e matam as melhores ovelhas para comer, mas não apascentam o rebanho’.” 

Na perspectiva de Davi, a relação com o pastor é de bondade e abundância para com as ovelhas.

Salmos 23.1-2

“O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso”

Ezequiel percebe que as ovelhas estão sendo exploradas e negligenciadas por seus governantes

Ezequiel 34.3-4

“Vocês não fortaleceram as fracas, não curaram as doentes, não enfaixaram as quebradas, não trouxeram de volta as desgarradas e não buscaram as perdidas, mas dominam sobre elas com força e tirania.”

Davi declara que se sente, com razão, abençoado e cheio de esperança para o resto de sua vida.

Salmos 23.4-6

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.

Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges a minha cabeça com óleo; o meu cálice transborda.

Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida”

Ezequiel conclui com um julgamento lógico. As ovelhas estavam, na verdade, sem pastor!

Ezequiel 34.5-6

“Assim, elas se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todos os animais selvagens. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todas as colinas. As minhas ovelhas andam espalhadas por toda a terra, sem haver quem as procure ou quem as busque.”

A situação triste e desesperadora das ovelhas em Ezequiel não é diferente da que acontece com muitas crianças e adolescentes no mundo. São crianças e adolescentes desnecessariamente fracos, doentes, feridos, famintos, perdidos e até espalhados pelas nações devido ao tráfico humano. O profeta responsabilizou os líderes do povo, declarando:

“Assim diz o Senhor Deus: Eis que estou contra os pastores e lhes pedirei contas das minhas ovelhas. Farei com que deixem de apascentar ovelhas, e não apascentarão mais a si mesmos. Livrarei as minhas ovelhas de sua boca, para que já não lhes sirvam de comida.” Ezequiel 34.10

Entre o pastor e as ovelhas deve haver uma relação de troca, de reciprocidade, de dar e receber, de amar e ser amado. Os pastores citados por Ezequiel apenas recebiam. Deus julga esses líderes exigindo que eles respondam pela situação das ovelhas. Eles serão depostos de seus lugares de poder e as ovelhas ficarão livres de sua exploração. 

Quando olhamos para a situação das crianças e adolescentes em nossas ruas e bairros, sabemos que houve falhas na administração de nossos governantes. Deus julgará. A justiça será feita e ele cobrará das pessoas em lugares de poder por sua negligência e descaso.

No entanto, enquanto esperamos a justiça de Deus, precisamos caminhar em esperança com as crianças e os adolescentes. Infelizmente é comum nos guiarmos pelo pessimismo que apenas vê os fracassos, os obstáculos, a quantidade e o tamanho dos problemas. Podemos também ser guiados pelo otimismo que acredita que o sistema resolverá nossos problemas se tão somente elegermos a pessoa certa, que professa defender os princípios corretos. Nem otimismo nem pessimismo vão nos ajudar a permanecer no caminho com as crianças.

O trabalho dos educadores sociais cristãos parte de uma convicção baseada na esperança. Que esperança é essa? É a crença de que cada criança ou adolescente sob nosso cuidado foi, é e será amada pelo Bom Pastor. Ele não quer que nenhum de seus pequeninos se perca!

O trabalho realizado com crianças e adolescentes por organizações sociais cristãs precisa se basear nas funções atribuídas aos pastores de ovelhas. Que trabalho é esse? Orientar, proteger, alimentar e cuidar dos mais vulneráveis. O trabalho inclui também promover o importante papel que o Bom Pastor designou para cada uma das vidas que estão sob o nosso cuidado. Delas é o reino! 

Saber que as crianças e os adolescentes com quem caminhamos são cidadãos do reino, que recebem um olhar especial de Deus, fortalece a nossa esperança?

Por James Bruce Gilbert