O pastor Lineu Wutzke*, atual diretor executivo do Centro Social e Educacional Aldeia Infantil Betesda, conta que Sueli Pinheiro, 50 anos, muito embora sem condições de constituir uma família ou viver independentemente como adulta, toca a todos que a conhecem com alegria, entusiasmo e generosidade. Ela tem ótima memória e está sempre orando por cada missionário que já passou por aquela instituição. Não sabe ler, mas sabe de cor vários trechos da Bíblia e músicas. Sua alegria de viver, não obstante suas limitações, é genuína e um presente para todos.
Não se sabe muito sobre seu passado. Tudo o que se sabe sobre a sua família é que seu pai saiu de casa quando ela ainda era pequena e sua mãe morreu quando ela estava, provavelmente, com uns 7, 8 anos de idade. Missionárias da Missão Evangélica Independente do Brasil (MEIB) a encontraram desnutrida, deitada sobre um colchão de palha de milho, tão fraca que mal podia caminhar. Estava próxima da morte.
Durante dias, a garota clamava com insistência “Eu quero pão, eu quero pão”! Sua fome parecia insaciável e ela precisava de atenção a maior parte do tempo. As missionárias tinham muitas outras obrigações e não conseguiam dedicar a ela todo o carinho de que precisava. Foi então que, no dia 26 de dezembro de 1968, ela ganhou uma casa nova. Foi acolhida no orfanato da missão, atual Lar Betesda, em Toledo, PR.
A menina, que provavelmente já se chamou Maria dos Santos, ganhou na época documentos novos. Passou a se chamar Sueli Pinheiro e sua data de nascimento ficou estabelecida como 20 de agosto de 1961. Com os documentos prontos, em 1972, ela foi para a escola. Mas sua estadia ali durou pouco, logo foi encaminhada para uma escola especial. Tinha graves problemas de desenvolvimento. Depois de algumas tentativas, erros e acertos, Sueli foi diagnosticada com esquizofrenia crônica com limitação intelectual.
A vida foi dura com a Sueli, mas ela respondeu à dureza, com amor, algo mais forte que a morte. Hoje, ela ainda mora na mesma instituição que a acolheu no passado, apesar de esta não funcionar mais como um orfanato, mas como uma entidade beneficente de assistência social. O Pr. Lineu, atual responsável legal por Sueli, afirma que ela é um presente de Deus para a sua vida. Apesar de ter enfrentado tantas dificuldades, ela hoje é capaz de amar e vive rodeada de pessoas que a amam, cuidam e admiram, como o próprio pastor Lineu.
Nota: * O admirador Lineu Wutzke é pastor auxiliar da Igreja Evangélica Livre de Toledo e presidente do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente de Toledo. Casado há 20 anos, tem 2 filhos.
Autor(a): Raquel Basto (Estudante de Letras na Universidade Federal de Viçosa. Mora em Viçosa, MG, com seus pais e irmãos.)
Revista Mãos Dadas Edição 27 – Perfil