Vitória, adolescente de 12 anos, vacinando na Esplanda del Palácio de Gobierno Municipal de Montividéo. Mais de 80 mil pessoas foram vacinadas em 2007.

Você tomaria uma vacina de mel? Em forma de bala… é claro! Com o objetivo de adoçar relacionamentos a Juventud Para Cristo (JPC) do Uruguai* e a Cooperativa Andenes realizam anualmente a Campanha de Vacinação contra Maus-tratos a Crianças e Adolescentes.

A campanha tem os objetivos de promover os direitos da criança e do adolescente com ênfase no “bom-trato” e de sensibilizar a sociedade quanto às situações de violência vividas diariamente por eles. Maus-tratos são toda ação, omissão ou negligência que tire da pessoa seus direitos e condições de bem-estar, colocando em risco seu desenvolvimento físico, psíquico, moral ou social. Os causadores podem ser pessoas, instituições ou a própria sociedade.

O tema é “Um trato pelo bom-trato”. Ou seja, a pessoa vacinada deve se comprometer a viver relacionamentos “livres de violência” tanto entre gêneros (homem e mulher), como entre gerações (crianças, adolescentes, jovens e adultos). A consciência de que crianças e adolescentes sofrem abusos (maus-tratos) físicos, emocionais e, sobretudo os abusos sexuais, é recente. Por isso, JPC se preocupou também em fazer do adolescente  um agente importante na luta em defesa de seuspróprios direitos.

Em outubro de 2007, foi realizada a 5ª Campanha de Vacinação em várias cidades do interior do Uruguai e em diversos pontos da capital. Em um deles, o Palácio do Legislativo de Montevidéu, adolescentes, de escolas públicas, de igrejas e atendidos por projetos sociais, vacinaram deputados e senadores.

Os adolescentes vacinadores agem da seguinte forma: abordam um adulto e perguntam a ele se já tomou a vacina antipegánica (pegar em castelhano significa “bater”). Mesmo que a pessoa não seja uma abusadora (maltratadora), ela pode vacinar-se, pois seus atos sempre podem melhorar. O adulto deve então expressar seu compromisso com ações de bom-trato, como abraçar o filho e dizer-lhe o quanto o ama, ler um livro com ele antes de dormir, tirar um tempo para escutar o adolescente e levar em conta suas opiniões etc. Depois de expresso o compromisso, o jovem lhe entrega o certifi cado de vacinação, um adesivo de carro e o convida a tomar a dose oral: uma bala de mel.

Segundo Denise Teixeira, missionária brasileira que participou da Campanha no Uruguai, a participação dos adolescentes é importante “pois alguns deles sofrem maus-tratos em suas próprias casas. Isso lhes dá autoridade para falar aos outros”, além de ser uma oportunidade de trabalhar em favor deles mesmos e de outras crianças e adolescentes.

Equipe de vacinadores na Campanha de Vacinação pela Paz realizada no Morro da Conceição em Recife, PE.

Equipe de vacinadores na Campanha de Vacinação pela Paz realizada no Morro da Conceição em Recife, PE.

Brasil
Inspirada na proposta da JPC do Uruguai acontece há três anos no Brasil a Campanha de Vacinação pela az, que é realizada pelo Projeto Crescendo no Morro em parceria com o Conselho de Moradores do Morro da Conceição, em Recife, PE, e a ONG Diaconia.**

Durante os Jogos da Paz, uma parte da programação da campanha, um grupo de jovens do projeto aborda os moradores do Morro da Conceição e os convida a se vacinarem em favor da paz. Os adultos devem comprometer-se a amar e cuidar das crianças da comunidade. Nesse caso o contrato é um carimbo e a vacina também é uma bala.

Assim como no Uruguai, os adolescentes têm um papel importante, são os  responsáveis por mobilizar, animar e convidar as pessoas a se vacinarem. Na campanha realizada em setembro de 2007, participaram cerca de 280 crianças, adolescentes e jovens, familiares, moradores e visitantes da comunidade.

A Campanha de Vacinação contra Maus-tratos a Crianças e Adolescentes acontece no Uruguai há cinco anos e tem-se difundido pela Argentina, Chile, Peru e Brasil. Divulgar a Campanha em âmbito nacional é um dos projetos da redeMãos Dadas*** para 2008.

Poesia “Que sejam crianças as crianças” de Mex Urtizberea [Download]

Notas
* JPC trabalha pelo desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.
** Diaconia trabalha pelo desenvolvimento humano na região semi-árida e em centros urbanos do Nordeste.
*** Rede formada pelos parceiros da revista Mãos Dadas que busca soluções para a problemática das crianças e adolescentes em situações de risco social.